quinta-feira, 12 de março de 2009

TODOS AO PALCO, CONTRA A CRISE



"Depois de ter perdido grande parte da sua população, Patrícios reencontrou a capacidade de sorrir graças ao seu grupo de teatro, que atraí os turistas."


Assim começa, um artigo na edição de Fevereiro/09 da recomendável revista Courrier Internacional, assinado por José Vales.


Na actual ou noutra qualquer conjuntura, não encontro nada mais interessante e pertinente do que um olhar sobre quem consegue dar a volta, ousar, estimular e reinventar soluções.


Aliás, neste momento, é unânime entre a classe dos gestores, a ideia de que só se safam desta crise aqueles que forem capazes de inovar, usando a criatividade em prol dos seus projectos, das suas empresas, comunidades e países.

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O artigo que menciono, conta a história de uma pequena aldeia (outrora chegou a ter 5000 habitantes, agora restam 500) na Argentina. Encontraram na criação de um grupo de teatro, a forma ideal para engrandecerem a sua comunidade a nível sócio-económico-cultural.


.../Em Patrícios, era preciso lutar não só contra a pobreza e a apatia mas também contra o aborrecimento e o desejo louco de rumar a outras paragens.
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«Conseguimos muitas coisas durante estes seis anos de teatro, mas a mais importante foi termo-nos tornado visíveis» comenta a encenadora Alejandra Arosteguy. «Hoje, Patrícios é vista, reconhecida. Outra coisa importante foi que, pela primeira vez, os habitantes se uniram para agir.»
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«Por causa do teatro, criámos o sistema D&P (dormida e pequeno-almoço): alguns moradores recebem turistas nas suas casas, oferecendo-lhes cama e pequeno-almoço», explica Nilda. Tudo pela módica quantia de 30 pesos (6,40 euros). Isto dá um pequeno impulso à economia. As lojas funcionam. O “Boulevard”- que se obstina em manter os seus ares parisienses – enche-se de passeantes que atraem os olhares e, à hora do almoço e há noite, o único café da aldeia, o Club Atlético Patrícios, não consegue servir comida a toda a gente.

Este Grupo de Teatro, além de funcionar como chamariz e sustento para a economia local, desenvolve uma importantíssima acção junto da comunidade. Conseguiram envolver os locais nas suas produções.

Frases como;

O teatro mudou a minha vida, dita por uma menina de dez anos, ou Nunca tinha pensado que era capaz de representar e, agora, não sou capaz de viver sem o teatro, proferida por Nilda Martinez, de 79 anos, uma das mais dinâmicas actrizes do grupo de teatro comunitário Patrícios Unidos de Pie;

são bem esclarecedoras do efeito produzido por este bendito fenómeno.

Expressões como as que aqui são referidas, tenho ouvido amiúde, na minha experiência de trabalho com grupos de teatro amador nos Açores, nestes últimos cinco anos.


Recordo as pessoas que mudaram realmente de vida, ao abandonarem os seus trabalhos ou planos de cursos "normais", rumando a Lisboa ou Porto para estudarem Teatro.


Recordo também a minha querida Srª Margarida das Lajes do Pico, telefonista na Escola Secundária, que voltou a conduzir depois de cerca de 20 anos de interregno, para poder ir diariamente aos ensaios sem aborrecer o marido, tornando-se assim mais auto-suficiente e feliz. E que talento que ela tem, asseguro-vos.


E recordo ainda, desta vez infelizmente, um actual e já com alguns mandatos no curriculum, Presidente de Câmara da Ilha de São Miguel, que me disse não acreditar que algum dia pudesse existir um Grupo de Teatro a funcionar profissionalmente nos Açores... fiquei a perceber que para ele tal não seria necessário.


Devemos ser capazes de pegar no exemplo de Patrícios e redimensioná-lo para as nossas freguesias, vilas e cidades.
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Para além de muitos outros casos, e salvaguardando, claro, as devidas dimensões, como é que acham que Londres se tornou numa grande capital e centro económico mundial?

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Pois é. Amigo/as, temos de acreditar!



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*fotos - Largada de Velhas, teatro de rua, Ponta Delgada/2007.