segunda-feira, 14 de abril de 2008

Corre o ano de 1998 e o Teatro da Garagem escreve mais uma página na História do Teatro Português.


É certo que o Teatro é uma arte efémera… o que aconteceu no espectáculo de ontem jamais será repetido da mesma forma… o público é outro, os actores respiram outro ar, e por muitos vídeos e fotografias que se façam, não existem condições para que o momento teatral seja novamente vivido.
Mas há acontecimentos que merecem não ser esquecidos por aqueles que os viveram. E esse reavivar da memória, ao mesmo tempo que se conta uma bonita história, bem pode servir de tónico e estimulo a todos aqueles que escolheram a expressão artística para modo de vida… a todos aqueles que “se despem porque suam”.
Vou fazer um exercício de recuo no tempo e peço que me acompanhem… 10 anos… 1998.
Em 1998, o Teatro da Garagem concluía um ciclo de cinco peças: PENTATEUCO – Manual de Sobrevivência para o ano 2000. Cinco espectáculos com a autoria e encenação de Carlos J. Pessoa. Foram cinco peças estreadas no espaço de ano e meio; O Homem que Ressuscitou, Desertos, Peregrinação, A Escrita da Água, A Menina que foi Avó.
Até agora, nada de novo…
Depois de estreado o ultimo destes espectáculos e de algumas digressões, faltava criar-se um evento para que as peças fossem mais facilmente vistas no contexto do PENTATEUCO.
Em co-produção com o Centro Cultural de Belém, lá se apresentaram, durante um mês, os cinco espectáculos estreados num ano e meio.
Mas faltava ainda o grande desafio… Os cinco espectáculos num só evento de um só dia.
O Citemor ( Festival de Montemor-o-Velho) desse ano foi o palco e o parceiro ideal para esse acontecimento.
Assim, um grupo de cerca de 300 espectadores, acompanhou o Teatro da Garagem no evento especial de inauguração do Citemor/98, que consistia na apresentação das cinco peças, em diferentes espaços da Vila de Montemor-O-Velho.
Esta maratona de teatro começou pelas 16 horas, com o primeiro espectáculo a acontecer no velhinho Teatro Esther de Carvalho; a segunda peça decorreu numa praça da vila; a terceira, e já depois do intervalo para jantar, aconteceu no palco do festival montado no interior do Castelo; o quarto e quinto espectáculos aconteceram no magnífico cenário natural do Castelo de Montemor-O-Velho.
No ultimo espectáculo, ao último acorde, à ultima fala, ao ultimo rasgo de iluminação, e parecendo tudo tremendamente acertado, respondeu o relógio da igreja a dar as badaladas das 5 da manhã… e respondeu um galo que começou a cantar… e responderam os espectadores com a ovação que se esperava.
Quem lá esteve nesse dia, público e garagianos, sentiram-se como que a fazer História.
Gostava de deixar aqui os nomes de todos os que fizeram parte da Equipa da Garagem, os heróis que tornaram esse dia possível.
Tenho de começar pela grande e saudosa Isabel de Castro (1931-2005).
Carlos J. Pessoa, Maria João Vicente, José Espada, João Calvário, Inês Vicente, Teresa Azevedo Gomes, João de Almeida, Sérgio Delgado, Daniel Cervantes, Inês Correia, Miguel Mendes, Jorge de Andrade, Sara Duarte, João Didelet, Marco Delgado, Nelson Cabral, Anabela Almeida, Sílvia Filipe.
Numa semana particularmente feliz para aqueles que "se despem porque suam", fica aqui esta pequena grande história.
Há muito para fazer…não se estabeleçam, não nos estabeleçam limites. Esta aventura vai ser o que nós quisermos que ela seja.
* fotografia do espectáculo A Menina que foi Avó